Ao iniciar um tratamento convencional em animais, como antibióticos, anti-inflamatórios ou medicamentos para controle de dor, as enzimas do CYP450 são acionadas

Um tópico intrigante e relevante para nossa prática: as interações medicamentosas entre tratamentos alopáticos (convencionais) e o uso da cannabis em animais. As enzimas do CYP450 desempenham um papel crucial, influenciando a forma como nossos pacientes processam medicamentos, assim como os compostos da cannabis.

Sabemos que as enzimas do citocromo P450 (CYP450) funcionam como operários químicos, desempenhando um papel fundamental no metabolismo de diversos medicamentos. Essas enzimas, presentes principalmente no fígado e intestino, trabalham para quebrar substâncias complexas em formas que o corpo possa absorver, utilizar ou eliminar de maneira segura.

Aqui está o ponto de partida: ao iniciar um tratamento convencional em animais, como antibióticos, anti-inflamatórios ou medicamentos para controle de dor, as enzimas do CYP450 são acionadas. Elas ajudam a desmontar esses medicamentos em componentes menores, permitindo que o organismo do animal os processe de forma eficaz.

No entanto, o crescente uso da cannabis em animais nos conduz a um território ainda em expansão de conhecimento e descobertas. Certos componentes da cannabis, como os mais famosos: THC e o CBD, também interagem com as enzimas do CYP450 nos animais. Isso pode resultar em alterações no metabolismo tanto dos medicamentos convencionais quanto dos compostos da cannabis.

O THC, por exemplo, pode impactar as enzimas do CYP450 de maneira a aumentar os níveis de medicamentos convencionais no sistema do animal. Já o CBD, devido a suas propriedades, pode influenciar essas enzimas de formas diversas, afetando o metabolismo de medicamentos de maneiras (ainda) imprevisíveis.

“As enzimas do CYP450 desempenham um papel vital nas complexas interações entre medicamentos convencionais e a cannabis em animais. Ao entender essas interações, podemos oferecer a melhor assistência possível aos nossos pacientes, aproveitando os benefícios de ambas as abordagens.”

Julia Rezende, médica veterinária

 

Essas interações podem ter implicações significativas na saúde dos animais. O aumento dos níveis de medicamentos devido à influência da cannabis pode levar a efeitos colaterais indesejados ou toxicidade. Por outro lado, a cannabis pode afetar a eficácia dos tratamentos convencionais, auxiliando no sucesso do tratamento.

Aqui reside a importância crucial da colaboração entre veterinários que conhecem a fisiologia do Sistema Endocanabinoide e seus clientes. Ao decidir usar a cannabis como parte do tratamento ou manejo dos animais, os proprietários devem ser encorajados a comunicar plenamente seus veterinários. Isso permitirá uma avaliação minuciosa das possíveis interações entre a cannabis e os medicamentos convencionais, garantindo a segurança e eficácia do tratamento.

Em resumo, as enzimas do CYP450 desempenham um papel vital nas complexas interações entre medicamentos convencionais e a cannabis em animais. Ao entender essas interações, podemos oferecer a melhor assistência possível aos nossos pacientes, aproveitando os benefícios de ambas as abordagens. Lembre-se, a comunicação aberta e a colaboração com os proprietários são fundamentais para orientar nossos pacientes em direção a um tratamento seguro e bem-sucedido.